Mal António Guterres concluiu o mandato que exerceu na ONU, os jornalistas logo se amontoaram, e, de microfone em punho, interrogaram-no se regressava à política activa em Portugal. Respondeu, obviamente, que não.
Só quem não acompanhou com alguma atenção a sua ação governativa como primeiro ministro de Portugal se poderá espantar com esta recusa. A experiência governativa de Guterres não foi, efectivamente, boa, não só por ter abandonado o poder por uma razão sobejamente conhecida (derrota do PS nas eleições autárquicas de 2001) mas sobretudo por razões que ficaram no segredo dos deuses (que ele, apesar de tudo, resumiu numa palavra - "o pântano").
Aliás, arriscando a analogia, devo dizer que o alegado "fracasso político" de António Guterres me parece tão irreal como o putativo fiasco de José Mourinho no Chelsea. Isto é, querendo ser objetivos, nem Mourinho falhou como treinador, nem Guterres como governante. Ao primeiro basta estalar um dedo, para lhe aparecerem vários clubes de topo a convidá-lo; ao segundo, bastaria soltar uma palavra para vir a ser o candidato vitorioso da esquerda a Belém. Se os carrascos de Mourinho foram os seus jogadores, os de Guterres terão sido os seus ministros e secretários de estado.
Analisando o que falhou no governo Guterres, o despesismo do seu governo vem à cabeça como causa primeira desse falhanço. Nunca se disse que a pressão dos sindicatos foi decisiva no tal despesismo; e que todas as organizações sindicais reivindicaram sem parcimónia o que Guterres prometera a um sector social bem determinado. Quem não se lembra da célebre bandeira eleitoral de Guterres -"Paixão pela Educação"? A reestruturação da carreira docente, trazia com ela o fermento da motivação profissonal docente, tão necessária ao sucesso educativo dos alunos. Era um bem necessário e urgente, mas também era uma promessa a cumprir. Quiseram os outros sectores o mesmo, sem qualquer promessa eleitoral que o legitimasse.
Faltou firmeza a Guterres para, em Conselho de Ministros, subir o tom de voz, e dizer olhos nos olhos aos seus ministros que ganhou as eleições apostando claramente na EDUCAÇÃO, e que, não tinha orçamento para acudir a todos ao mesmo tempo. Não o fez. Cedeu em quase toda a linha às reivindicações de todos, e assim caminhou para uma saída triste e sem glória, alegando uma derrota eleitoral que nem sequer era dele, mas dos presidentes de Câmara.
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